Nem sempre o mundo é um local acolhedor. Infelizmente, ele pode ser também muito confuso e violento. Um triste exemplo disso é o constante crescimento de Ghost Bike pelas cidades no Brasil e no mundo.
Local de homenagem e reverência, a Ghost Bike possui uma simbologia singular, pois tem o poder de reunir numerosos significados. Algumas pessoas desconhecem a história específica da instalação da bicicleta, mas conseguem sentir os motivos.
Se você é ciclista e quer fazer parte de uma sociedade mais tolerante, continue a leitura deste artigo. Se puder, compartilhe também com os amigos. Vamos juntos criar uma corrente de resistência!
Afinal, o que é ghost bike?
A ghost bike é uma bicicleta totalmente pintada de branco. Ela costuma ser uma bike simples, sem grandes atrativos para não ser roubada. Sua instalação acontece nos lugares exatos onde ciclistas foram mortos por um veículo. Por isso o termo em inglês, Ghost Bike, quer dizer Bike Fantasma, na tradução livre.
Normalmente, os familiares e amigos costumam realizar uma cerimônia no próprio local. Instalam em um lugar alto ou visível bicicleta branca e colocam fotos e flores. Da mesma forma em que colocam cruzes brancas pela estrada, em locais de acidente, as bicicletas brancas servem de protesto e alerta.
Bicicletas brancas: o que elas representam?
Mais do que uma forma de ter seu ente querido sempre em lembrança, a ghost bike é uma forma simbólica de resistência no ciclismo. Sendo um alerta visual para incomodar os condutores. Além disso, ele serve também como um ponto de atenção para os ciclistas, sobre o perigo da região.
Segundo dados da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego apresentados em 2020, em 10 anos, 13.718 ciclistas morreram, vítimas de acidente de trânsito. 60% deles foram atropelados por acidente ou, como bem sabemos, imprudência.
Origem do ghost bike
A primeira Ghost Bike que se tem notícia, foi criada pelo ativista Patrick Van Der Tuin. Cansado de perder amigos sendo atropelados, em 2003 ele teve a ideia de transformar o seu descontentamento em ação.
Em uma noite pintou uma bike de branco e colocou no local onde dias antes uma ciclista tinha sido atropelada. Tal atitude serviu de inspiração para outras pessoas no mundo. Logo, amantes do pedal de diferentes países começaram também a protestar com a ghost Bike.
No Brasil a iniciativa começou na mesma época e se expandiu para todas as cidades. O mesmo aconteceu em outras localidades da América Latina.
Ghost bike no brasil e no mundo
Por todo o Brasil, é em São Paulo que se concentra o maior número de Ghost Bikes. Conhecida por conta do seu trânsito caótico, a cidade ainda tem muito o que aprender quando assunto é respeito no trânsito.
Na Avenida Paulista, por exemplo, cartão postal da cidade, dois casos nos últimos anos chamaram a atenção. As ciclistas Márcia Prado, em 2009 e Juliana Dias em 2012, foram mortas, ambas atropeladas por motoristas de ônibus. A Ghost Bike das duas ficou durante anos expostas.
Porém, com o passar do tempo foram retiradas. O mesmo acontece com tantas outras pela cidade, que são arrancadas e descartadas, sem que os familiares e amigos saibam.
Pelo mundo, existem mais de 600 ghost bikes, em pelo menos 26 países e 210 localidades em todo o planeta.
Ghost bike: como fazer e instalar?
Há quem defenda a ideia de que a Ghost Bike deveria ser a do próprio acidente, para chocar ainda mais a sociedade. Porém, sabemos que não é assim que funciona, já que muitas vezes a bicicleta passa por perícias técnicas, além de ser um objeto de grande valor sentimental para as famílias.
No entanto, é muito importante instalar e manter por um bom tempo uma Ghost Bike na cidade. Afinal, ela é símbolo do que muitos querem esconder e não enxergar. Por isso, confira algumas dicas de como preparar uma e a melhor maneira de fazer com que ela fique exposta por mais tempo.
Preparação inicial
Antes mesmo de pintar a ghost bike de branco, o ideal é retirar os principais componentes e deixar ela sem condições de uso. Aliás, o ideal é que seja visível a olho nú de que o estado dela de conservação é inexistente.
Retalhe o pneu, retire o bagageiro, arranque os manetes de freio, desinstale o sistema de freios, câmbio e passadores de marcha. Deixe apenas os itens que a caracteriza como bike, o quadro, o selim, os pedais e os pneus inutilizados.
Instalação
As bicicletas brancas que duram mais em via pública costumam ser aquelas que ficam penduradas em postes. Ao ficarem instaladas no alto, elas sofrem menos chances de furto e depreciação. No caso de quem apenas consegue amarrar em uma grade na via pública, utilize o cadeado, criando formas para que ele não consiga ser aberto. Opte também por correntes grossas e difíceis de quebrar.
No caso de praças, será preciso cavar a terra e utilizar latas de concreto para preencher o buraco, que deve ser fundo. Pense que deve ser algo pesado e impossível de retirar com facilidade.
Cerimônia
Reúna os familiares e amigos do ciclista e preste as últimas homenagens no local. Além de ser uma forma de aliviar a dor, será também um importante ato político de resistência, frente ao sistema que insiste em apagar histórias.
PORQUE AS GHOST BIKES SÃO NECESSÁRIAS?
Seja uma fechada, esbarrão ou mesmo acidente. Todo ciclista tem alguma história envolvendo veículos para contar. O desrespeito sempre acontece e por conta disso, o movimento em defesa de pedalar com segurança não pode se calar.
O direito de se locomover de bicicleta pelas cidades tem sido constantemente violado. Resultado disso é a Ghost Bike. Sua necessidade como um símbolo importante vai continuar, enquanto existir impunidade. Ciclistas têm sido brutalmente assassinados por conta da atitude irregular de alguns condutores no trânsito.
É preciso que sejam feitas campanhas educativas voltadas aos motoristas. E ainda sim, que elas possam ser capazes de conscientizar para a importância da segurança com o ciclista e o compartilhamento pacífico das ruas e avenidas.
Você já viu algum Ghost Bike na região em que você mora? Conte para a gente aqui nos comentários!